Conversas de gayjas

- Essa coisa de "assumam-se, porra" está errado.
Cada um sabe de si. Cada um sabe os pais que tem, o meio em que vive, a sua situação sócio-económica e o modo como isso poderá afectar a sua vida.
E deve pensar bem antes de o fazer. Pesar as vantagens e as desvantagens. Tentar sondar a opinião dos pais (ou outras pessoas perante quem se queira assumir) sobre o assunto antes de decidir qual a posição que vai tomar. A mensagem "assumam-se, saiam do armário porque quem está cá fora é que está bem!" é uma mensagem inconsequente que algumas associações não deveriam passar aos jovens. Até porque, aquela história de "eles amam-me, vão continuar a amar e aceitar-me como sou" muitas vezes sai ao lado e depois é um drama.

- Pois, aí concordo. Se calhar a mensagem devia ser algo do género: "pensem bem. Reflictam nas vantagens e desvantagens e se, no final, estiverem certos de que o querem fazer, façam-no com orgulho!"
Mas não critiques esses que chamam os outros a assumirem-se... Se já mais pessoas se tivessem assumido há mais tempo talvez hoje a situação já estivesse melhor e nós já não teríamos de controlar impulsos de carinho em público. E, se calhar, pessoas como os meus pais já não teriam aquela ideia de "lésbica como uma mulher com aspecto e comportamento machão".

- Sim, mas isso levanta outra questão: a da visibilidade LGBT. Toda gente diz que é bom e é preciso aumentar. Eu compreendo. Mas que tipo de visibilidade? A que se vê nas marchas? A promovida pelas associações? Será esta a melhor forma de o fazer?

- Pois... Há uns tempos, em conversa com a C., chegamos à conclusão que não achávamos que essa fosse a forma mais correcta ou sequer suficiente. Sem querer retirar mérito às associações, que é muito! Mas achamos que é preciso uma terceira via de acção. Uma outra forma... Só ainda não conseguimos descobrir como...

Ainda se procuram ideias...

5 sobreviveram ao "lápis azul":

Unknown disse...

Antes de fazer o comentário propriamente dito, deixa-me dizer que concordo com quase tudo o que foi dito no post.
Agora em relação à terceira via, não vos parece que se calhar é exactamente a anterior? I.e., o maior número de pessoas possiveis a sair do armário? Cada um com os que ama, a mostrar-lhes a normalidade inerente à condição LGBT?

GRAFIS disse...

Concordo com o que dizes. É exactamente o que penso. Não sei se existirão assim essas "vias" tão balizadas. É verdade que existem ainda muitos preconceitos a derrubar. Essa responsabilidade cabe-nos a nós, mas cada um saberá de si.
Tenho para mim que, como para tudo, é preciso entender as questões sociais/culturais que andam em volta da sexualidade/homossexualidade. Só conhecendo e percebendo essas questões/razões/dogmas é que é possível começar a derruba-las.
Acho que cada um deve perceber o contexto e conjuntura em que vive, e viver a sua sexualidade da forma como se sente mais confortável.
Nós somos o que somos e as pessoas gostam de nós, embora exista uma faceta que não conhecem. A verdade é que vamos percebendo quem é que consegue suportar essa faceta – a quem somos capazes de nos abrir claramente - e quem é que não conseguindo suportar, vive bem com a hipótese dela ser realidade – quase toda a gente que não se enquadra na primeira hipótese, enquadra-se na segunda.
Quanto ao resto, penso que vamos fazendo a diferença, pedagogicamente, não permitindo comentários ou actos maliciosos, defendendo o ponto de vista mais acertado, transmitindo “a outra face” da questão, procurando fazer entender. Muita gente pode até nem admitir que entendeu, mas pensará duas vezes daí em diante. Simplesmente porque todos nós somos a educação que recebemos, somos a cultura na qual somos “forjados”, e sabemos todos o quanto a nossa educação e cultura é fabricada de questões pouco essenciais e perfeitamente descabidas. Mas somos seres com inteligência.
Quem estiver preparado para sair e dizer “aqui estou”, que saia. Mas não se atreva a apontar o dedo a quem escolheu outra “via”.

serotonina disse...

Também estou de acordo, cada um sabe de si, sabe em que ambiente social, cultural, etc, se encontra e se essa saída do armário seria benéfica para si.
Eu, como professora, nas aulas de formação cívica tento, sempre que possível, abordar temas ou assuntos que possam levar à não discriminação, ou à não condenação de opções quer sexuais, quer politicas, quer culturais, etc. Tento que os alunos compreendam que cada um é uma unidade que não deveremos querer que os outros sejam a nossa imagem, que devemos compreender as opções ou decisões de cada um. Não penso que seja por eu assumir a minha sexualidade que vá fazer com que mais pessoas compreendam e respeitem a minha opção. A questão vai muito mais além, é uma questão cultural, se as pessoas não aceitam decisões e opções de outras pessoas, a outros níveis, opções essas que são públicas, como vão aceitar a opção sexual? Por isso, a formação das pessoas vai muito mais além do que a saída de todos do armário, vai mais pelo respeito pelo próximo.
E concordo com a Grafis quando diz: "Quem estiver preparado para sair e dizer “aqui estou”, que saia. Mas não se atreva a apontar o dedo a quem escolheu outra “via”."

Gayja disse...

Obrigada pelo vosso contributo! :)

No entanto, há algo que não entendo...
Serotonina, "opção sexual"? Julguei que a discussão acerca da incorrecção desse termo estivesse já terminada... :S (??)

serotonina disse...

e está e esta´! Termo que não uso por não concordar, não sei como me foi sair. Estes lapsos de linguagem às vezes são bastante impróprios. Já agora acrescento, que talvez não pareça, por aquilo que disse, mas acho muito muito bem que as pessoas se assumam,não acho é que seja por aí que as pessoas comecem a respeitar a homossexualidade. Cada um deve fazer o que quiser da sua vida, desde que não prejudique ninguém.