Comentários que dão posts

Ali em baixo surgiram dois comentários que me levam a voltar a escrever um post sobre o mesmo assunto.

O primeiro comentário é o seguinte:

«rv disse...
o post é injusto do principio ao fim uma vez q os profs da sua cidade n correspondem à maioria nacional, o que aqui fala é de uma pequena maioria e em espaço restrito; como diz o ditado " quem está no convento é que sabe o q lá vai dentro"... Posso-lhe dizer que o processo de avaliação baseado na auto-avaliação foi primeiramente criado pelo ministério e administrado pelo mesmo durante décadas, ora se agora está mal então devem assumir o erro de o ter posto em prática durante o tempo em que existiu.
Segundo, como é óbvio depois de 11 anos a dar aulas não posso ter medo de ser avaliada por terceiros uma vez que sei o q valho e esforço-me p tal, o que n posso aceitar é que todos os profs sejam avaliados mediante o número de docentes de determinada área dentro de um agrupamento, ou será q para si era justo será avaliada numa sociedade de advogados n perante os seus resultados m de acordo com o número de lugares disponíveis nessa mesma empresa?
o q o ministério quer não é justo, humano e mt menos pedagógico pq o que pede é q os coordenadores de departamento dêem as notas que o ministério quer e n as que realmente merecem, pq tudo, tudo, tudo tem a ver com a questão das cotas, m isso penso eu q só entenderá qd entrar p o mercado de trabalho e o sentir verdadeiramente na pele.
É pena, q a nossa posição seja sempre tão mal defendida e representada, mas uma coisa é certa , é q toda gente sabe apontar o dedo ao mesmo tempo q diz q nunca teria uma profissão como a nossa, ora perante isto a incoerência instala-se.
Mais, isto nada tem a ver com lutas partidárias pq se bem ouviram as notícias até associações de profs não sindicalizados se moveram pela primeira vez, juntamente com a confap, concelho de escolas e conselho científico-pedagógico,e ainda em relação a este último organismo q trabalha directamente p o ministério posso-lhe ainda dizer que se demitiram e alguns até se reformaram antecipadamente uma vez que estavam a realizar um trabalho com o minist. com o qual tb n concordavam.
ora como vê são mts as situações, mts as hipocrisias, mts as opiniões mal formadas até mesmo em comunicação social e muita falta de respeito perante uma classe q apenas quer que os deixem fazer de forma pedagógica e saudável aquilo que gosta e p o qual andou anos a preparar-se e vai continuar a preparar uma vez que é das profissões q exige constante actualização de conhecimentos p conseguir atingir os objectivos a q se propõe.
Termino dizem aos restante q se enganem q o ensino vai melhorar com estas avaliações a q estamos sujeitas pq o q se pretende apenas com isto é q todos os profs não subam de escalão p não receberem mais de ordenado, sim pq no ensino não se paga à aula ou ao dia o q queremos, paga-se ao escalão e ao índice de vencimento, sendo este vencimento aquele q corresponde ás horas de aulas que se dá ficando sempre de parte questões pq o ensino nunca se restringe a uma só área m isso a maioria só perceberá no dia em que estiver à frente de uma turma com 30 seres individuais cada um c a sua especificidade afectiva, em salas geladas e velhas cujos quadros de electricidade desligam constantemente pela fraca potência q teem sp que se ligam os aquecedores e em escolas q estão a cair de podre por conta dos protocolos de luxo entre o minist. e as autarquias.
Um aluno é e será sempre um aluno que tenho q respeitar , aceitar e desenvolver, não é nem nunca será um caso que me posso dar ao luxo de não defender pq não vai ao encontro daquilo q mais gosto, nós não temos nem nunca tivemos essa postura e prova disso é q há colegas q já foram bem mal tratados fisicamente.
No dia em que quiserem falar sobre educação então leiam primeiro o Estatuto da Carreira Docente aprovado em 2006 que levou a todo esta luta e dp opinem pr vós próprios e n pelo q parece ou por vivências ainda mal resolvidas.


rv

13-12-2008 16:53»


O segundo comentário é este:

Subscrevo cada palavra de rv. Sendo professora e considerando que faço um bom trabalho adoraria ser avaliada por alguém que reconhecesse o meu trabalho de forma objectiva, não por ser minha amiga ou por achar-me boa pessoa, mas por considerar que sou capaz de transmitir conhecimento e manter os meus alunos motivados.
Quem é que me poderia avaliar?
1. outros professores?
Se são professores avaliam os alunos e não os colegas. Além disso, sendo também professores, estarão eles mesmos a dar aulas e não a assistir às minhas. Sentir-me-ia deveras constrangida se tivesse de avaliar um colega em iguais circunstâncias. Recusar-me-ía como muitos professores têm feito e bem!;
2. pelos alunos?
Parece-me mais coerente dado que são os principais interessados. Contudo, conseguem garantir-me que os alunos serão sérios na sua avaliação e não me irão penalizar por lhes ter dado uma nota negativa?
3. Os pais dos alunos?
Esta proposta seria tão ridicula que nem merece comentário.
4. Os resultados dos testes dos alunos?
Sentir-me-ia tentada a dar boas notas a todos para que não fosse penalizada na minha carreira.
(...)
Para que a avaliação fosse justa, todos os alunos teriam de estudar em boas escolas e todos os professores deveriam ter aceso às mesmas condições de trabalho. De facto, não encontro solução para isto por mais que queira ser avaliada.

Esta história da avaliação dos professores é manobra de entretenimento da parte do governo que na covardia de assumir que o desastre do sistema de ensino neste país se deve à falta de equidade social (no acesso e na frequência de boas escolas e universidades) e ao sucessivo desinvestimento nesta área tenta a todo o custo jogar as culpas para cima dos professores (há obviamente bons e maus professores).
Enquanto a sociedade discute como se deve avaliar os professores não discute sobre o desinvestimento no Ensino. Eis a malvada estratégia de um (des)governo que lava as suas mãos ao mesmo tempo que sufoca escolas e universidades.
Antes de avaliar professores gostava também de avaliar magistrados, gestores e políticos, pode ser?

14-12-2008 3:16»



Como resposta inicial a ambas, utilizarei uma frase que tantas vezes ouvi os meus professores proferir sabiamente:

Leiam o texto com atenção!

Como resposta a ex-pressiongirl farei uso de uma outra que nunca esqueci:

Estudem bem a matéria!


Posto isto, analisemos cada um dos comentários individualmente.

Relativamente ao comentário da RV:

1.«os profs da sua cidade n correspondem à maioria nacional, o que aqui fala é de uma pequena maioria e em espaço restrito; como diz o ditado " quem está no convento é que sabe o q lá vai dentro"...»

Não é verdade. Os professores da minha cidade não são diferentes dos professores das outras cidades e posso afirmá-lo porque conheço vários casos semelhantes que ocorrem na grande cidade do Porto. Será que também esta cidade não serve como referência? Então qual servirá?


2.«Posso-lhe dizer que o processo de avaliação baseado na auto-avaliação foi primeiramente criado pelo ministério e administrado pelo mesmo durante décadas, ora se agora está mal então devem assumir o erro de o ter posto em prática durante o tempo em que existiu.»

Não tinha conhecimento de que assim era mas não consigo perceber a ratio desta afirmação... Se o modelo de avaliação era esse a agora o Ministério propõe-se alterá-lo, o que está a fazer senão a reconhecer que o modelo anterior não era um erro? O que se pretende? Que os membros venham a público auto-flagelar-se por medidas que concluiram ser erradas e pretendem alterar? Fiquei sem perceber...


3.«o que n posso aceitar é que todos os profs sejam avaliados mediante o número de docentes de determinada área dentro de um agrupamento, ou será q para si era justo será avaliada numa sociedade de advogados n perante os seus resultados m de acordo com o número de lugares disponíveis nessa mesma empresa?»

Em primeiro lugar, resposta à questão colocada: é claro que numa sociedade de advogados existe um número limitado de "lugares disponíveis" e só os "afilhados" ou os que provam ser muito competentes entram na mesma. Mas isto é totalmente irrelevante porque trata-se aqui de uma área de trabalho totalmente na disponibilidade das partes onde o Estado não entra. Se quisermos fazer um paralelismo, fá-lo-emos com um colégio privado. A sua proposta é que nesses colégios sejam admitidos professores sem qualquer limite de lugares? Então o privado não tem o direito de escolher quem lá quer meter?

Resolvido este primeiro ponto, o Estado não é obrigado a dar trabalho a todos os "aventureiros" que pretendem seguir a carreira docente e ingressar no ensino público sabendo que existe já um grande número de desempregados nesta área. Façamos o paralelismo: será o Estado obrigado a dar trabalho a todos os juristas que se licenciam por ano neste país? Qual é a lógica? Se há números limitados de vagas, porque não haveria a avaliação de servir para beneficiar os melhores? Afinal o que se pretende? Uma classe de funcionários públicos em que o professor dedicado e bom profissional está ao nível de um professor "desleixado"? Não está já mais do que claro para todos os portugueses que os funcionários públicos têm de começar a responder pela qualidade do seu trabalho?


4.«o q o ministério quer não é justo, humano e mt menos pedagógico pq o que pede é q os coordenadores de departamento dêem as notas que o ministério quer e n as que realmente merecem, pq tudo, tudo, tudo tem a ver com a questão das cotas, m isso penso eu q só entenderá qd entrar p o mercado de trabalho e o sentir verdadeiramente na pele.»

Assim como entre professores há maus profissionais mas também há muitos bons profissionais, o mesmo se passa no Ministério. Poupem-me às teorias da conspiração... E se ainda estou a lutar para entrar no mercado de trabalho é precisamente porque pretendo ingressar numa área que tem um número limitado de vagas e que exige dos candidatos um esforço e dedicação muito grandes. Porque não há-de ser assim nas outras áreas? Se não estivesse disposta a isto, podia sempre ir abrir uma loja de gelados! Mas se a carreira por que se opta implica uma retribuição paga pelo Estado (pelo dinheiro de todos) porque não há-de o Estado ser exigente e pretender avaliar os "seus" trabalhadores?


5.«sim pq no ensino não se paga à aula ou ao dia o q queremos, paga-se ao escalão e ao índice de vencimento, sendo este vencimento aquele q corresponde ás horas de aulas que se dá ficando sempre de parte questões pq o ensino nunca se restringe a uma só área m isso a maioria só perceberá no dia em que estiver à frente de uma turma com 30 seres individuais cada um c a sua especificidade afectiva, em salas geladas e velhas cujos quadros de electricidade desligam constantemente pela fraca potência q teem sp que se ligam os aquecedores e em escolas q estão a cair de podre por conta dos protocolos de luxo entre o minist. e as autarquias.»

É esta atitude de vitimização de descredibiliza a classe. Acaso julga que os funcionários da secretaria da escola recebem à hora ou ao dia? E os magistrados? Acaso julga que um Juiz recebe "ao julgamento" ou que alguém paga a um magistrado do Ministério Público as noites e fins-de-semana que passa de volta dos processos?

Quanto às condições de trabalho, isso depende imenso! Toda a vida frequentei escolas públicas. Quando estava na primária, chovia dentro da sala. Quando estava no secundário, tínhamos aquecedor nas salas. Portanto, depende! Há escolas com boas condições e há escolas com más condições mas isso depende de opções políticas de gestão de dinheiros públicos. Mas por que raio acham os professores que são os únicos coitadinhos que trabalham nestas condições? Também em relação aos tribunais se passa o mesmo! E nem por isso se ouve os magistrados a "chorar" a toda a hora! Já ouviu falar de tribunais com tectos a cair? Devia ir visitar alguns gabinetes de magistrados ou salas de julgamentos no interior do país para confirmar que os professores não são as únicas vítimas da falta de dinheiro!


6. Quanto ao resto, aconselho que releia com atenção o post que comentou. Garanto que uma leitura mais atenta será suficiente para perceber que fez uma incorrecta interpretação do que escrevi. Julgo que resulta bastante claro que concordo com os professores que defendem que a avaliação é bem-vinda desde que feita num modelo que garanta imparcialidade e transparência (o que não era garantido pelo primeiro modelo proposto pelo Governo). Não posso, obviamente, ficar do lado dos professores que dizem que são a favor da avaliação, mas depois apresentam como contra-proposta um sistema de auto-avalição que não passa, na realidade, de um modelo de não-avaliação.


Quanto ao comentário da ex-pressiongirl:

1.«Sendo professora e considerando que faço um bom trabalho adoraria ser avaliada por alguém que reconhecesse o meu trabalho de forma objectiva, não por ser minha amiga ou por achar-me boa pessoa, mas por considerar que sou capaz de transmitir conhecimento e manter os meus alunos motivados.»

Julgo que todos concordamos nesse ponto. Avaliação, em qualquer profissão, deve ser feita de forma objectiva e imparcial.


2.«Quem é que me poderia avaliar?»

Aqui apresenta alguns exemplos. Concordo que os exemplos apresentados (outros professores, alunos, pais dos alunos e resultados dos alunos) não são modelos ou critérios viáveis para garantir uma avaliação objectiva como se pretende. Mas porque não sugere um grupo autónomo encarregue de avaliar os professores? Um grupo externo? Por exemplo, um grupo de professores com vários anos de experiência e que largasse a docência para ter como função proceder à avaliação? Se é assim que ocorre noutras áreas, porque não lhes ocorre esta solução e perante a inviabilidade dos exemplos típicos apontam prontamente a impossibilidade de qualquer tipo de avalição? Não será que estão apenas a confirmar o que já muitos temem: afinal o que pretendem é que não exista qualquer avaliação?


3. Relativamente às considerações políticas, não me pronuncio porque cada um é livre de tecer as considerações que entender (desde que bem fundamentadas).


4.«Antes de avaliar professores gostava também de avaliar magistrados, gestores e políticos, pode ser?»

Aqui vem confirmada mais uma vez a tendência que os professores têm para se vitimizar sem sequer se irem informar sobre as condições de trabalho das outras classes profissionais deste país. Fica muito mal defender a oposição à avaliação só porque os outros não são avaliados. E pior ainda fica quando se opta por este tipo de defesa sem que haja um cauteloso estudo prévio. É que, ao contrário do que os professores pensam, a maioria dos profissionais são avaliados, inclusivamente os Magistrados! Mais uma vez, se tivesse lido o post com atenção, ainda que o não soubesse, tê-lo-ia deduzido...


Além do que aqui fica, subscrevo o que se pode ler aqui.


Para terminar, espero que isto não seja interpretado como um ataque pessoal às comentadoras em causa (para o qual não teria qualquer razão) mas como mais uma exposição da minha opinião.

17 sobreviveram ao "lápis azul":

Anônimo disse...

Como professora não podia deixar de comentar o tema em debate nesta casa.
A avaliação dos professores é quase como futebol toda a gente é super entendida, mas quando se vai ver na realidade há muitos promenores que escapam e que são importantes para um verdadeiro entendimento da problemática.
Em primeiro lugar queria chamar a atenção para o grande erro em que se cai quando se tenta generalizar algo e se conhece uma pequena amostra da poupulação em causa (os professores, neste caso). Nunca o conhecimento de um caso ou outro ou até de todos os professores do Porto pode ser considerado dados válidos para generalizar. Existem realidades muito diferentes das que se vivem no Porto, umas melhores outras piores. A estatística é enganosa ainda mais quando se usam amostras pouco significativas.
A avaliação dos porfessores não é uma medida para estes terem ou deixarem de ter emprego. É essencialmente uma medida para quem já faz parte dos quadros do estado, sendo assim um instrumento mediador da progressão na carreira. Considere-se então o caso de um dito bom professor, ou seja, aquele que se entrega com dedicação e empenho à sua profissão. Este professor poderá ser impedido de progredir por não existir cota para MUITO BOM ou EXCELENTE na sua escola ou agrupamento. Isto é um processo para melhoria das escolas ou técnicas puramente economicistas?

Gayja disse...

Oh god!
Vamos lá outra vez...

Este blog não é sítio para discutir essa questão. Eu não sou professora, essa questão pouco me interessa e por isso mesmo me limitei a escrever sobre o que sei.Nunca foi minha intenção vir para aqui com grandes discussões sobre este tema.
Não era isso que estava em causa no meu primeiro post.

Por favor, vão lê-lo!

Por outras palavras, o que dizia é que os professores andaram a fazer imenso barulho e com razão. Com razão no ponto em que contestavam o MODELO da avaliação e não a existência ou não de avaliação. Até aqui, tudo do lado deles.

Mas no final, a proposta que entregaram consiste numa auto-avaliação que não passa, na realidade, de uma não-avaliação.
Concluindo, das duas uma:

1.ou os professores não se revêem nestes líderes sindicais e, nesse caso, devem demarcar-se e deixar bem claro que não são contra a avaliação em si;

2.ou os professores afinal são contra a avaliação porque acham que não existe qualquer modelo possível de avaliação ou que ninguém tem legitimidade para os avaliar.

Tudo o que diz além disto, refere-se ao MODELO de avaliação. Julgo que posso concluir que não é contra a avaliação ser um "instrumento mediador da progressão na carreira" mas sim contra o método utilizado. Quanto a esse, pela milésima vez, ninguém está aqui a dizer que concorda com o proposto pelo Governo (antes pelo contrário, pela centésima vez, também a mim me parece que não era adequado).
Mas fique claro que jamais serei a favor de um modelo que consista numa não-avaliação.

Finalmente, quanto às realidades distintas da do Porto, antes de mais, convém relembrar que quando referi esse ponto foi relativamente aos professores que dizem ter falta de tempo e por isso exemplifiquei com a realidade que conheço (que, acredite, é muito mais abrangente do que transmito neste blog por razões relacionadas com a "exposição" que faço de mim própria). Gostaria até que me provasse que estou errada. Diga-me, por favor, uma cidade neste país que não tenha professores do ensino público com tempo livre para dar explicações privadas.

Siona disse...

Olá,
Em primeiro lugar, gosto do teu blog, e vou-o lendo apesar de quase nunca comentar. Mas, desta vez, tenho de discordar um pouco...

1. Não sou professora, mas acho que os professores têm razões de queixa muito boas relativamente a esta "avaliação" (e sem que deixem de haver alguns professores maus, que os há). O resultado principal do modelo à Chile acaba por ser terem de passar alunos que, por culpa própria, não sabem o suficiente para transitarem de ano, e o estado depois pode-se gabar, na Europa, que a educação portuguesa está a melhorar "tanto". Se antes metade dos alunos que cada ano entravam na faculdade acabava por reprovar 3 ou 4 vezes e desistiam do ensino superior, agora vai passar a acontecer ainda mais cedo.
E o tempo dos professores, na escola e em casa, acaba por ser consumido por tarefas administrativas e até comerciais, com esse pequeno monstro chamado "magalhães", sem que lhes paguem o equivalente.


2. Há realmente uma disparidade imensa de avaliações, competência, ética e (im)punidade entre profissões.

Eu e a minha família já fomos prejudicados (melhor, roubados, sem aspas) nuns módicos milhares de contos por juízes que aparentemente desconheciam o mais básico do Código de Processo Civil. Eram erros tão básicos que não acredito que fossem involuntários: dar relevância a "factos" que não foram provados nem eram "factos", e que não podiam nem fazia sentido, legalmente, serem levados em conta no processo em questão; decisões (parcialmente) favoráveis anuladas por recursos em que a parte contrária alegava mais "factos" (sem apresentar nenhuma prova, sendo que as provas num recurso têm requisitos ainda mais específicos que em primeira instância), e o colectivo de juízes dava isso como certo; requerimentos que tinham prazo para (in)deferir, mas que, depois de ligar para o tribunal a dizer que podia apresentar queixa ao superior hierárquico se teimassem em não responder, nunca tiveram qualquer resposta (ai, os prazos, nos tribunais...); funcionários judiciais que forjaram documentos legais (à bruta e sem cuidado para esconder nada), etc, etc, etc.
É como se um professor dissesse que a seguir ao A vem o P, não porque é ignorante, mas porque quer que os alunos se fiquem menos que analfabetos.

E se nos tivéssemos queixado, ficaríamos até ao fim da vida atolados em processos judiciais por "difamação" (aliás, espero que ninguém denuncie este comentário, provavelmente seria presa mais rapidamente que um pedófilo).

E sentenças que não me diziam directamente respeito mas a que tive acesso, e com cada enormidade "moral", entre misoginias, homofobias, transfobias, que ficas a pensar como é que o senhor que a escreveu ainda está vivo, porque claramente nasceu num período particularmente retrógado da Idade das Trevas.

Pior, e para meu azar pessoal, o reconhecimento legal da minha identidade como mulher, por parte do estado/tribunais, depende de um juiz. E, para poder ser cidadã, vou ter de fazer de conta de gosto de rapazes (sou lésbica desde que nasci, sorry), usar um vestido e maquilhagem durante a audiência de julgamento (sorry novamente, calças e t-shirts...), provar que sempre fiz chichi sentada (a sério...), que brincava com barbies quando era pequena, que gosto de culinária e moda (nem uma coisa nem outra). Durante o julgamento também podem perguntar-me sobre a forma dos meus pêlos púbicos, profundidade vaginal, etc., etc.

Sinceramente, acho que alguns juízes não têm ética que chegasse para ir assaltar velhinhas. E como deves já ter reparado, há muitos dinossauros entrincheirados na profissão, com medo imenso de quem é jovem e competente.

E odeio pretenciosidades como tratarem-se mutuamente por "doutor X de Y e Z", mas referirem-se a um pós-doutorado em astrofísica nuclear como "senhor Z". Odeio "merítissmo juiz" (mesmo quando é mulher). Odeio as togas e perucas, está aquém da Idade das Trevas. Odeio "jubilarem-se" em vez de simplesmente se "reformarem". Odeio-os quando esperem que as pessoas se levantem quando eles entram na sala. Odeio-os quando exigem, musculadamente, "respeito" ao estado, quando profissões com nódoas éticas e de competência milesimais em comparação, são vilipendiadas e demonizadas.

Não acho que todos os juízes, advogados, juristas, etc., sejam corruptos e incompetentes (já conheci alguns que são pessoas capazes e éticas), mas que os há... há. E gostava de ver isso a mudar, muito mais do que o ensino, porque faz ainda mais diferença à sociedade, que, enquanto tiver esta "justiça", não sei se poderá chamar-se democrática.

P.f. não leves a mal o testamento/desabafo que descarrilou um bocadinho, e desculpa a amargura (que é contra o sistema, não contra ti).

Berto disse...

No meio disto tudo, e como não gosto de falar sem conhecimento de causa, alguém me pode facultar o modelo de avaliação em causa? É que oiço falar muito mal dele (ou bem, consoante os lado), mas ainda não sei como é, nem como vai funcionar.

Mas já agora um "opinanço": Sou programador, numa empresa privada. A maneira como sou avaliado é simples: Ou trabalho ou não trabalho! Se não trabalhar, e bem, fico para trás na carreira, ou sou despedido. Não tenho "modelos de avaliação", nem "grupos independentes", simplesmente ou trabalho ou não. Pq é que isto não resulta no ensino?

Anônimo disse...

É só ler as coisas com atençao e calma para evitar estas situaçoes!
Este assunto parece ser muito sensivel! Basta ler professor que vai logo tudo atacar. nao se pode levar tudo como um "deita abaixo". Se se lê um texto com olhos de critica, obviamente que é isso que aparece á frente. Calma!

nada desta vida disse...

gayja, eu concordo em absoluto, farta de corporativismos, de gente que supostamente deveria dar educação (são pagos com o dinheiro dos contribuintes) e nem português sabem escrever... que durante anos tinham 3 meses de férias, PAGAS?!?!?!? agora têm de trabalhar! é assim mesmo, trabalhem como os restantes comuns dos mortais. e sim, sejam avaliados, e façam relatórios, planifiquem as aulas, em suma: trabalhem!

farta farta farta fartinha dos professores e das suas queixinhas!

nada desta vida disse...

já agora os alunos que façam auto avaliação e deixava de haver necessidade dessa cambada de ignorantes e incompetentes (salvo raras excepções e eu falo da minha experiência pessoal, onde em 15 anos de ensino tive a sorte de ter 3 professores com capacidade para o serem)

o ensino é uma coisa muito séria, cambada de malandros!

Anônimo disse...

Gostei bastante do post...
E para mim, os professores só perdem mais credibilidade ao vitimarizarem-se assim e arranjarem dramas onde não os há...

E depois dizem que o ensino está na decadencia...como não há-de estar com pessoas deste tipo a dar aulas?

De que é que têm medo? Talvez a estratégia do governo não seja a melhor, mas desde aí a fazer uma tempestade num copo de água...tenham dó!

x-pressiongirl disse...

Gayja, relativamene ao ponto 3 de rv, acho que ele estatava a referir-se às quotas. Ou seja, não sobem TODOS os professores excelentes ou muito bons, mas apenas uma percentagem deles.
Eu li o seu texto com a devida atenção e tenho a matéria estudada, pois apesar de não dar aulas numa escola pública encontro-me solidária com os meus colegas que passam por todo este martírio. Continuarão a ter-me nas manifestações a que puder ir! Mesmo que não fosse professora, um dia fui aluna e não gostaria de ver os meus professores nesta embrulhada.
Relativamente à 2ª observação, gayja propõe um grupo autónomo, externo, quiçá um grupo de professores que largasse a docência para exercer o cargo de avaliadoes. Não sugeri isto por considerá-lo absolutamene descabido pois se é um grupo externo, como é que conhece o meu trabalho? Vão fazer-me visitas-surpresa quantas vezes ao ano? Assistirão a todas as minhas aulas (porque eu também tenho dias melhores e outros piores)? Um grupo de professores que largasse a docência? Eu acho que há falta de professores, gayja!!! Já viu quantos alunos tem um profesor em cada turma? Como é que o meu professor se consegue concentrar nsa minhas necessidades e motivações se ele tem ao mesmo tempo uns 30 alunos mais a quem dar atenção? E repare que é totalmente diferente dar aulas numa escola "bem" ou numa escola cujas condições são menores, cuja maioria dos alunos provenha de famílias que quando não trabalham desde a alvorada até ao pôr do sol se encontram em situação precária ou de desemprego. Faz toda a diferença!
Não creio que subscrever as palavras de Siona quando diz que gostava de ver magistrados a serem avaliados me coloque em posição de vitimização. Obviamente gostaria de ver todo os profissionais agrupados em bons e maus e não só os docentes. Gayja diz que os magistrados são avaliados? Por quem, gayja? Pelos dinossauros velhos que têm medo dos jovens competentes?

O ensino em Portugal vai mal, é verdade. Mas é avaliando profesores que ele melhora ou é investindo na escola e nas Universidades públicas, proporcionando maior equidade no acesso e na frequência?
Sabe quantos colegas desistiram durante o meu curso por não terem dinheiro para continuar a pagá-lo? Cerca de 20% e éramos mais de 60!
Que bolsas se dá a um estudante universitário? Eu recebia €50.
Alguém ouve falar disto? São os problemas do nosso ensino gerados pela classe docente?
Penso que a escola enquanto instrumento social não pode nunca ser encarada como uma ilha de alunos e professores. Investir em escola sem que se invista em emprego, sem que se promova a igualdade de oportunidades, o pleno acesso à justiça, de nada nos servirá, gayja. Fala-se de dinheiro, a verdade é essa. Fala-se de investimento e os governos pronunciam défice. Fala-se de igualdade e eles respondem utopia. Fala-se de justiça e sabemos que ela não é acessível a todos, portanto nunca pode ser justa.
Volto a dizer que esta "emergência" em avaliar professores não tem ponta de seriedade quando se percebe que o que se pretende é atirar areia para os olhos das pessoas "Vejam, vejam, a culpa é deles. O ensino anda assim porque eles não querem ser avaliados, cambada de malandros, são uns gatunos que se passeiam com o dinheiro dos contribuintes!". A estratégia de jogar a culpa no outro quando algo não vai bem não é nova e os professores informados são uma ameaça. Veja-se que são, a par dos intelectuais, os primeiros a serem mortos ou perseguidos em qualquer ditadura ou guerra que se preze.
Isto não é fazer os professores de vítimas, é compreender onde estão os bandidos.
Enquanto a população e os professores se combatem entre si não gastam energias a combater o principal inimigo.
Se o governo estivesse realmente interessado em combater o insucesso escolar apontava baterias à exclusão social e à pobreza que é dos principais cancros do país.
Mais do que discutir a viabilidade ou não da avaliação dos professores, urge investir nas populações e nas escolas. Não há dinheiro, dizia-me um amiga no outro dia. Não há dinheiro? De cada vez que entro num super mercado nem que seja para comprar uma pastilha já lá estão 21% para o estado. Não há dinheiro? Se as reformas de cada um dos senhores que aprova estas leis se multiplica desenfreadamente após cada ano sentados numa AR qualquer. Não há dinheiro?
Obviamente o director do JN tem outra opinião, gayja. Basta pensar a quem é que o seu jornal serve. Ele é director mas tem patrões, pagam-lhe e ele escreve. Às vezes penso que bastaria retirar-se a um jornal a publicidade institucional para acabar com ele de vez. Outras vezes penso que os jornais já estão totalmente "acabados", em coma mesmo, e que só são alimentados por alguma sonda-mecenas: "Escreve, escreve!".

saudações x-pressivas,

x-pressiongirl

Anônimo disse...

Começo por lhe dar os parabéns pelo post.

Se o modelo de avaliação é descabido, e eu não duvido que seja, como se pode considerar uma auto-avaliação um modelo justo e para quê perder tempo e dinheiro com uma avaliação que não serve para nada? A auto-avaliação não é uma proposta séria e a razão que tinham perdeu-se.
Quanto ao serem todos considerados muito bons (que não são, pela amostra que eu conheço), como fazem os professores quando têm uma turma muito boa? Dão 20 a todos ou exigem um pouco mais e premeiam ou excelentes?

Acho que muitos professores, os que são efectivamente bons, não temem a dita avaliação, acontece que estão a ser engolidos pelos menos bons e pelo jogo político, já começa a ser tempo de o perceberem.

Anônimo disse...

Lamento ter q dizer isto, mas só se deve falar do que se conhece caso contrário cada um deve-se remeter ao seu lugar!

Anônimo disse...

"deve se remeter" ou "deve remeter-se".
Exacto...

Mente Assumida disse...

rv, não podia concordar mais com esse seu último comentário.
Com efeito, se a rv se limitasse a falar do que conhece jamais compararia a situação dos professores com a dos advogados, como fez no comentário ao post anterior. Ademais, as sociedades de advogados não são empresas, como lhes chamou. E também não se escreve "veem" mas sim "vêm".

Não pretendo, com isto, desvirtuar os seus comentários ou afastar-me do tema central em discussão. Quanto a esse aspecto, digo-lhe apenas que a interpretação que fez do post da Gayja foi algo retorcida e que só com bastante imaginação se poderia conceber que o mesmo iria suscitar algumas das considerações que teceu a propósito. Mas como não pretendo alongar-me sobre o assunto, fico por aqui.

A discussão ficou imediatamente inquinada a partir do momento em que a interpretação foi por caminhos enviesados e, muito sinceramente, não tenho lá muita pachorra para estar a repetir o que é óbvio só porque alguns professores teimam em encarnar o papel da virgem ofendida de cada vez que alguém toca no assunto da avaliação.

Unknown disse...

Gayja, no que tu te foste meter.. eles ANDEM aí!! ;P

Anônimo disse...

mente assumida:
lamento informá-la se calhar quem ytem que estudar a matéria será a senhora pq quem começou por fazer comparações não fui a sim a proprietária deste blog q.
Em segundo lugar detesto ter que dizer isto mas um dos meus progenitores trabalhou mais de 25 anos com advogados infelizmentenem sp conhecemos com quem nos cruzamos nos blogs por isso não me venha chamar à atenção pq tb não comento a sua postura qd a senhora se apresenta como anónima até pq nem tenho nada que ver com isso, assim como a senhora n tem que ver com o meu comentário seja lá qual fôr uma vez q n estou na sua casa.
Terceiro. a minha prestação acaba aqui, uma vez que já n se trata de uma troca saudavel de opiniões entre adultos e eu mais baixo não desço. Quarto´acho normal acontecerem erros ortográficos uma vez q não tenho n tempo p estar no computador e como tal escrevi à pressa, tal como agora.

passar bem

Gayja disse...

Siona, grande volta ao tema... ;p Esse é muito interessante mas não me parece que deva ser tratado em comentários.
Quanto ao processo que mencionas, obviamente não me pronuncio acerca de processos que desconheço... Mas posso dizer que, apesar de conhecer dezenas de sentenças muito "maradas", conheço também milhares de sentenças muito bem feitas. Além disso, garanto-te que esses juízes foram avaliados, bem como todos os outros magistrados.
E nem todos têm "muito bom" no final...

ex-pressiongirl, uma vez que gostam de fazer comparações, deixo aqui a informação que também nos tribunais de 2.ª instância e no Supremo não existe lugares para todos os "bons" ou "muito bons". E esclareço também que todos os magistrados são avaliados. A avaliação é feita por um grupo de inspectores e acredite, não são nada "meigos"...
Quanto ao resto do comentário, é óbvio que concordo com a maioria das considerações políticas que tece mas, mais uma vez, nunca foi intenção desenvolver uma discussão de âmbito tão alargado neste blog.

Mente Assumida, "A discussão ficou imediatamente inquinada a partir do momento em que a interpretação foi por caminhos enviesados" - foi mesmo isto... Ainda estou para perceber como...

@rco-íris, eles andem por toda a parte (são mais que as mães)!!

RV e Mente Assumida: Vamos lá a acalmar os ânimos porque lutas aqui neste espaço entre mulheres, só se envolver biquinis e lama!! ;p

RV, ora vamos lá a ver se esclarecemos isto:
MAGISTRADOS ≠ ADVOGADOS
Eu apenas referi magistrados, quem trouxe os advogados à discussão foi a própria rv no sei primeiro comentário...

Mente Assumida disse...

ó rv, pela minha parte até nem me importaria de estudar a matéria, toda, todinha, já que uma das coisas que mais gosto é de aprender e estudar. Sucede que não se aplica ao caso, uma vez que a Gayja não se referiu a advogados, mas sim a magistrados (como ela mesma, aliás, já teve oportunidade de sublinhar no comentário supra.

A não ser para demonstrar que nem por isso a rv conhece algumas especificidades da profissão, não vejo em que é que o facto de um dos seus progenitores ter trabalhado com advogados tenha qualquer relevância para o assunto. Talvez tenha sido apenas mais uma das suas originais interpretações do que os outros escrevem que a tenha levado a isso.

Existe uma abissal diferença entre "chamar a atenção" e elucidar. Chamar a atenção é aquilo que, por exemplo, os senhores professores estão habituados a fazer aos alunos quando estão com um ligeiro problema de autoridade e precisam de se afirmar dentro da sala de aula. Já elucidar é esclarecer. Eu elucidei, mas a rv, distorcendo as intenções, interpretou de outra forma. Terá sido um novo devaneio? Como dizem os ingleses: I rest my case.

Não é que eu tenha de me justificar perante si, mas aproveito para lhe dizer que ando pela blogosfera há mais de cinco anos e nunca publiquei um comentário como anónima. Se está a referir-se ao comentário que consta deste post, saiba que não fui eu que o escrevi. Mas, afianço-lhe, se imenso gosto teria em tê-lo escrito, mais gosto teria em tê-lo assinado, tão bem empregado o considero.

Faz muitíssimo bem em ficar por aqui. Pela minha parte, agradeço-lhe encarecidamente que me poupe aos seus devaneios interpretativos e outros.

Compreendo quando diz que mais baixo não desce. Acrescento: aliás, atendendo ao nível que já demonstrou, nem poderia, não é verdade?

Eu cá já não acho assim tão "normal" que ocorram erros ortográficos como diz. Lapsus calamis, admito. Erros ortográficos são coisa bem diversa. No entanto, os erros ortográficos são o menos, já que, nos seus comentários, o defeito da forma é minúsculo, ao pé do do conteúdo.

E não se abespinhe tanto quando alguém como eu perde uns minutos do seu precioso tempo a apreciar um dos seus comentários num blog. Ser-lhe-ia, seguramente, mais produtivo que poupasse o seu azedume para as manifestações em frente ao Ministério da Educação.

E para rematar deixo-lhe esta: estou muito mais em minha casa do que aquilo que a rv possa imaginar.