Medo?

- Mas então o que aconteceu ao requerimento?
- Olha, à última hora ninguém quis assinar com medo de represálias.
- Medo de represálias?! Mas estavam só a exercer um direito. Se já pensam assim agora, hão-de ir longe... Vão dar uns belos profissionais, não haja dúvida...


Depois vinha a conduzir para a casa e dei por mim a pensar "Bolas! Mas é exactamente o mesmo raciocínio para a Marcha LGBT..."

Estou sempre a pensar nos prós e nos contras de participar em tal evento... No risco da exposição, na forma como isso pode afectar a minha vida futura...

E acabo sempre por chegar à mesma conclusão: "Mas e depois?" E se as pessoas ficarem a saber que eu sou lésbica, qual é o problema? De que é que tenho medo? De sofrer represálias?"

Caraças!

Eu sempre fiz tudo direitinho.
Sou uma filha razoável, boa irmã, neta pouco problemática, boa sobrinha, muito boa prima, boa amiga, e boa colega, sempre fui uma aluna bastante razoável, nunca prejudiquei ninguém, sempre ajudei quando pude, já pratiquei 7 modalidades diferentes de desporto, já visitei 16 países diferentes, recenseei-me assim que atingi a idade devida e nunca deixei de votar, licenciei-me sem perder anos, fiz Erasmus, fiz um estágio, continuo a tratar da minha carreira, já dei à minha família várias razões de orgulho e gosto e quero passar o resto da minha vida com uma mulher.

Qual é o problema?

Não sou eu uma pessoa totalmente normal? Não sou uma cidadã plena de direitos e deveres como todos os outros?
Então porque não hei-de eu ter direito a um Estado que me trate como tal? Porque válida razão não tenho eu direito a uma lei que ponha de uma vez por todas fim à discriminação e que seriamente me proteja de toda e qualquer intervenção de terceiros no meu direito a "ser e estar" com dignidade? Porque não tenho eu direito a uma lei que, sem qualquer tipo de receio, assuma a intenção de moldar comportamentos de alguns concidadãos que continuam a julgar-se no direito de não me reconhecer o direito a um tratamento "indiferente" perante a lei?


Ora bolas!
Resta-me o direito a manifestar-me e protestar pelo reconhecimento dos meus direitos e, neste exercício, não devo ser limitada por qualquer medo ou receio!

Porque se eu me deixar limitar pelo medo ou pelas reacções dos outros, que tipo de pessoa me irei tornar?

4 sobreviveram ao "lápis azul":

Marta Rema disse...

ora aí está.
eu num dos teus posts sobre a marcha disse que era "lésbica que não vai a marchas". faltou completar o raciocínio porque na altura não fazia sentido estar a falar nisso. faço-o agora:
sou lésbica, não vou a marchas e assumo-me onde quer que esteja com quem quer que esteja. não ando a ostentar as minhas preferências sexuais, isto não quer dizer que me apresento às pessoas com o título de lésbica depois do nome. quer apenas dizer que nunca deixo passar aquelas situações de "tolerância", por exemplo. quando alguém está a dizer: "pois, eles querem casar, deixem-nos lá casar, mas adoptar..." e por aí fora. que não tenho problema nenhum what so ever de ter uma demonstração de carinho em público. etc. por aí fora. os outros é que têm problemas, resolvam-nos. eu quando os tenho também faço por isso. não devo rigorosamente nada a uma sociedade que me fez perder anos de vida a tentar perceber o que eu sentia, depois que isso que eu sentia havia outros que o sentiam, depois que isso não era perverso, etc.
bom post.

nada desta vida disse...

numa pessoa que não queres ser. ir ou não ir à marcha é indiferente. quer pensem a marcha como uma necessidade, quer se pense como um folclore desnecessario. não importa. importa é estares bem contigo. importa mudar leis injustas. (e eu por muito q n acredite no casamento acredito que todos os q se amam têm o direito de cometer esse erro - e sim há as questões juridicas de sucessão etc e tal). importa que o teu sobrinho cresça a seja um ser tolerante e justo e que perceba que o amor é o mais importante. e para isso basta amar e saber amar. gosto muito deste cantinho. gosto de pessoas q se questionam. beijinho gayja*

Jotinha disse...

Tens o meu aval nessa tua relação "estranha" ...lololololol

Beijossssss, são lindas estas duas meninas !!!

Gayja disse...

maísha, obrigada. :)

cara subtil, já dei por mim a pensar nisso... Se acontecer de um sobrinho ou primo ou filho meu vir a ser gay e vir a sofrer por isso eu acho que não me iria perdoar por poder ter lutado para mudar isso e não o ter feito... E sim, depois fiquei a sentir-me muito bem! Funcionou! ;) Bjinho

jotinha, relação "estranha"?!?
É pá... eu acho que isso é publicidade enganosa... Vais pôr toda a gente a vir aqui à espera de uma foto e depois ainda se assustam!! ;p
bjsssssssssssssssss e saudade*