"Famelga"

Num jantar de família e amigos (daqueles em que andamos a distribuir beijinhos por dezenas de pessoas e quando finalmente paramos porque julgamos que já cumprimentamos toda a gente, surge uma voz a refilar «então não cumprimentas o teu tio?»), estava eu muito compenetrada naquela tarefa árdua de escolher qual a sobremesa que iria repetir pela terceira vez, quando uma das minhas tias se aproxima.

- Ó "Gayja", tu tens namorado?

- Não. Não uso dessas coisas.


- Aaaaah... Sabes que no Sábado à noite liguei-te para saber se querias ir ter comigo a um bar onde estava com uns amigos. Estava lá o filho do "fulaninho de tal".

- Estava a estudar...


- Foi pena... O rapaz é engraçado.

- Não estou interessada. Tenho mais que fazer.


- Tem 28 anos...

- É muito velho.


- Mede 2 metros...

- É muito alto.


- Trabalha em "não sei quê".

- Que seca! Mas olha, pode ser que a minha prima esteja interessada! "Maria" anda cá! Chega aqui! A tua tia tem aqui uma coisa para te dizer!


- Ó! Não vás embora! Espera!

- Não , a sério! É na boa! De certeza que a minha prima o vai adorar! Eu não me importo, a sério!



Ainda bem que naquela noite a condução estava por minha conta pois, se tivesse um copito a mais, não sei que resposta a minha tia teria levado...

6 sobreviveram ao "lápis azul":

Isa disse...

Quando essas situações acontecem dá uma vontade enorme de responder o que passa pela minha mente. Não respondo pq provavelmente minha mãe me matará! ¬¬'

Berto disse...

é por essas coisas que sai de casa assim que pude :D

Gayja disse...

isa, também eu não sei o que a minha mãe me faria se eu respondesse à altura...

berto, também eu já saí de casa há muito anos. Mas não saí da família...

Berto disse...

Então pq te "escondes"? Agora assim não percebo. Acho que devemos ser quem somos, mas percebo que enquanto não somos "independentes" as vezes por razões economicas ou até mesmo de "logistica habitacional" (apesar de isto dar para uma grande discussão), compreenda o não abrir o jogo. Se estás fora de casa e independente, assume o que és, e se a tua familia realmente gostar de ti como diz que gosta, aceita-te como és. Não tens nenhum defeito, pq é que te comportas como se tivesses?

Gayja disse...

Esse paleio é muito fácil e de facto seria muito giro se fosse assim.
Nunca me comportei como se tivesse um defeito mas também nunca me comportei como se fosse diferente. Tenho a minha vida, ninguém se mete nela.
Quem tem de saber, sabe. Os outros não interessam.
E enquanto minha avó for viva, quanto menos pessoas souberem, melhor. Estar a assumir-me perante os meus tios todos não me traria qualquer vantagem e aumentava a probabilidade de a minha avó vir a saber. Isso seria um puro acto de egoísmo.
Gosto muito da minha avó mas sei que ela não saberia como reagir a uma notícia dessas. Teria um desgosto e eu não lucraria nada com isso. Portanto, para quê complicar? Ela nunca me faz perguntas sobre rapazes ou sobre com quem vou sair, portanto nunca tive sequer de lhe mentir.
Tão simples quanto isto.

Berto disse...

Eu não sou de paleio, e que se queixa és tu. Apenas estou a comentar aquilo que vejo, alias, que tu mostras. Eu tenho muita coisa a correr mal na minha vida, mas fico calado, pq tb não faço nada para mudar. Se achas que não deves contar, não contes, mas tb tens de arcar com as consequencias disso. Isto aplica-se em qq parte da nossa vida, seja em algo tão simples como que prato vou comer ao almoço que vais estragar a minha dieta ou vou sair de casa. Eu não vou fingir que sei o que tu estás a passar, pq nunca estive na tua situação, não sei se é facil ou dificil, mas o que a vida (e não só) me ensinou é que devemos estar bem connosco para que possamos estar bem com o os outros, e que parte disso passa por assumirmos os nossos actos e acarretar as consequencias.

No fundo, no fundo... it suck termos de andar as escondidas principalmente por motivos tão estupidos :P