Ainda a tentar preparar-me para o dia de amanhã

- E eu preciso da tua autorização para curtir com uma miúda?

- Claro! A primeira coisa que fazias era pegar no telemóvel e ligar-me. Dizias «Está aqui uma miúda e tal...» e eu perguntava-te «Mas é gira?». E tu «É toda boa!». Eu perguntava-te «E de cara também é bonitinha?» ao que respondias «É linda!». Então eu perguntava «E já falaste com ela? Como é?» e tu «É burra como uma porta!» e aí eu dizia «Ok! Podes curtir com ela!».

- Então se for burra não há problema?

- Exactamente.

- Mas essa regra não se aplica a ti! É que se vamos alargar o leque para as burras, isso passa a abranger a Rita Lobo Xavier e eu já sei como tu és!



Vejam o Público de hoje.

Não para lerem o que diz a senhora acima mencionada (que, num texto que tresanda a mofo, diz coisas como «Os pares do mesmo sexo representam opções insusceptíveis de serem convertidas em modelos para uma sociedade», ou «A família humana forma-se a partir do género sexual que lhe dá vida, não é possível constituir família com um género indiferenciado.» que demonstram apenas que a senhora Professora, de facto, não faz a mínima ideia do que está a falar ),

nem para lerem o que diz Jorge Miranda num discurso tipicamente utilizado por juristas quando sabem que legal e objectivamente não têm razão mas fazem uso de todas as suas habilidades de retórica para convencer outrém daquilo que vai de encontro à sua própria escala de valores,

mas para lerem o que, sob o título «Casamento entre pessoas do mesmo sexo: os falsos argumentos» escreve Isabel Moreira.


Deixo-vos uma pequena amostra:

«Uma vez que a Constituição portuguesa impõe a revogação das normas do Código Civil nos termos das quais duas pessoas do mesmo sexo não podem contrair casamento e, se o fizerem, é o mesmo tido por inexistente, o PS não pode deixar de cumprir a Constituição sob o falso argumento que não tem mandato programático para tanto. Isto porque o tem. E porque, mesmo que o não tivesse, a Constituição, e particularmente os direitos fundamentais, tem de ser cumprida independentemente do que os programas de governo ofereçam aos seus leitores.
A proposta de se submeter a questão a referendo não pode ser, por seu turno, levada a sério. Os direitos fundamentais não se referendam. A Constituição já impõe o acesso dos homossexuais ao casamento civil, pelo que nada há a referendar. Por aqui também deveria ficar arrumada a falsa questão da liberdade de voto. Não há consciência, nem inteligência, a fazer de critério; há Direito a cumprir.

(...)

Assim, em face dos limites às restrições aos direitos fundamentais expressados no artigo 18.º da Constituição e do que se vem expondo, quais as razões fortes, excepcionais, constitucionalmente fundadas, para o legislador, perante um grupo significativo da sociedade, impedir o casamento a pessoas de sexo diferente? Certo é que as não há, ou há apenas razões falsas, como a pretensa vocação necessária para a procriação do casamento. É que nos termos da lei duas pessoas de sexo diferente, seja em que idade for, sem qualquer possibilidade de terem filhos podem casar; na realidade, podem casar-se, sem intenção mesmo de se relacionarem sexualmente, podendo mesmo uma delas estar na iminência da morte. Qual é então o fundamento constitucionalmente admissível, à luz da proibição de discriminação arbitrária contida no artigo 13.º em conjugação com o artigo 36.º, n.º 1, da Constituição na atribuição de um direito fundamental para não se conferir a titularidade do direito de contrair casamento a pessoas do mesmo sexo, quando o mesmo é conferido a pessoas de sexo diferente nas situações referidas? Chega de des(culpas) para não cumprir a Constituição. »

4 sobreviveram ao "lápis azul":

Caramela disse...

Li os três artigos esta tarde no jornal.
O de Jorge Miranda, fala mas não diz nada, só me fez ficar confusa com o artigo todo.
Quanto ao da senhor professora... Não me vou dar sequer ao trabalho de o tentar comentar.
Já este último, vale mesmo a pena ler. Simples, claro, realmente explicativo, acima de tudo COM SENTIDO. É bom ver/ler as coisas chamadas pelos nomes, i.e. "Chega de des(culpas) para não cumprir a Constituição"

Marta Rema disse...

estive com ele na mão e depois desisti. fantástico texto. amanhã vou para a rua gritar.

Áurea disse...

Haja alguém que consegue pensar sem falsos moralismos neste país!

E a declaração de voto do PS para a votação de hoje? Conforme refere o DN (http://dn.sapo.pt/2008/10/10/nacional/ps_deixa_cair_promessa_eleitoral_par.html) "o que era claro em 2007 deixou agora de o ser. O PS deixou de se comprometer com a ideia de que fará do casamento 'gay' uma promessa eleitoral nas legislativas do 2009."

Epá, hoje estou particularmente com vontade de dizer uma série de impropérios àqueles f!$#os de uma grandessíssima senhora e muito particularmente aos gajos do PS!!!

Se fores até ao Parlamento, manifesta-te por nós (estamos a trabalhar e não vai dar para irmos).

AH! Não sei se vais ter sorte e encontrares uma miúda burra... espera, sempre pode passar alguma deputada socialista que não tem capacidade para pensar por ela própria :P

Gayja disse...

maísha, grita bem alto! Eu não pude ir...

ad, imagino que para vocês, assistir a todo este "espectáculo", seja ainda amais doloroso porque já estão, de facto, à espera há muito tempo... Se não for desta, não faltará muito!
Ai... se eu tivesse ido à AR hoje de certeza que me "safava"! ;p