As relações e essas coisas

Em conversa com a minha namorada descobri que temos entendimentos opostos em relação ao que é ou não é permitido fazer quando duas pessoas se amam.

A melhor maneira de explicar a discussão (calma, mas discussão no melhor sentido da coisa! Apenas uma troca de ideias sem gritos nem pratos pelo ar) é através de um exemplo:

imaginem que amam uma pessoa e que com ela têm uma vida em comum. Imaginem agora que essa pessoa tinha um problema qualquer como um hábito, vício ou uma dependência que a prejudicava (por exemplo, que era alcoólica). A minha questão é: até onde o amor justifica que interfiram na liberdade dessa pessoa?

Não, não se passou nada sequer semelhante lá por casa. ;p

Mas a discussão surgiu e eu entendo que quando se ama alguém não é possível ficar parado enquanto se vê a pessoa que se ama a dar cabo de si e o amor legitima qualquer intervenção mesmo contra a vontade da própria (por exemplo, chegar mesmo a arrancar-lhe uma garrafa da mão). Quem adopte uma posição passiva é porque não ama de facto.

Por outro lado, a minha namorada acha que o amor não é justificação para limitação da liberdade ou imposição de condutas a outrém. Assim, no exemplo utilizado, não é o facto de amar a pessoa que se destrói que dá direito a que se interfira ou se limite as suas escolhas conscientes e livres. E se não se é capaz de ficar a assistir à outra pessoa a exercer a sua liberdade de um modo que julgamos negativo apenas resta a hipótese de afastamento.

Reconheço que a minha namorada também tem alguma razão...

Mas qual é a opinião de quem passa por aqui?

17 sobreviveram ao "lápis azul":

Áurea disse...

É certo que a nossa liberdade começa qd termina a liberdade do outro.

Mas, estando-se perante um processo de auto-destruição de alguém que amamos, para mim, é impensável adoptar uma posição passiva. Até porque, essa pessoa já não está a respeitar a sua própria liberdade.

Anônimo disse...

Se fosse um hábito como passear às 22h todas as noites, acho que não há mal. Mas a partir do momento em que um hábito vira vício que vira doença, não podemos dar uma de cegas. Nada contra um copo, mas quando se começa a tremer porque ainda não se teve esse copo e aqueles que vêm (ou venhem ?!) a seguir, aí devemos interferir e ajudar o quanto antes... Antes que nos vendam à nós em troca de uma garrafa.
A última moda na Rússia, e acho isso trágico, são alcóolicos venderem apartamentos e carros para ter a dose diária. Contando, não se acredita. Mas quando os sem abrigo dizem porque são sem abrigo, até dá vontade de chorar por eles.

Mia disse...

Eu concordo mais com a tua opinião...
Eu não conseguiria ver a pessoa que está comigo a auto-destruir-se e não fazer nada por ela!
Mesmo que isso pusesse a nossa relação em risco, eu preferia correr o risco, porque se amo essa pessoa, quero o melhor para ela e se lhe acontecesse alguma coisa devido à sua autodestruição eu iria culpar-me sempre pela minha passividade relativamente à situação, por ter deixado 'andar'.

Anônimo disse...

Estou de acordo com a tua namorada. Aconselhar, sim. Apoiar, sim. Ser condescendente, não. E qualquer intervenção contra a vontade da própria só servirá para que a pessoa passe a fazer as coisas às escondidas.
A decisão final de fazer ou não algo que nos prejudica tem de ser sempre da pessoa. A cura assim o exige...

Caramela disse...

Quando se ama não se consegue adoptar uma postura passiva enquanto se vê a outra pessoa a destruir-se através de um vicio/hábito desses. Por isso concordo contigo.
Agora também é verdade que só se consegue fazer algo (ou tentar) até certo ponto... E se vemos que não há volta a dar e não aguentamos ver o outro a destruir-se, por respeito à nossa liberdade e sanidade mental, mais vale o afastamento.

Anônimo disse...

Na minha opinião, hábito e dependência não estão no mesmo nível de discussão e abordagem. Um hábito, pode ser desagradável, mas passível de ser aceite ou alterado. Numa dependência a pessoa já não é livre, está presa de si própria e da incapacidade de mudar e parar. Se no 1º caso vejo possível algum acerto e chegar a um consenso, no 2º caso, vejo a acção de amor para com esta pessoa, tentar que procure ajuda especializada e apoio nesta caminhada. Mas viver passivamente observando a destruição do outro é destrutivo para nós tb e a isso não temos de nos sujeitar.

Bjs.

Anônimo disse...

Só é ajudado quem quer! Pode-se tentar ajudar, uma, duas e tres vezes, mas s a pessoa que amamos nao tem força de vontade e iniciativa leva a um afastamento. Mas o afastamento é essa pessoa que o causa =) Quando um não quer, dois não fazem...

walla disse...

Se fosse um hábito que pudesse prejudicar essa pessoa a quem tanto temos tanto amor, sem dúvida interferir.

Anônimo disse...

boa tarde!
na minha opinião, devemos alertar a pessoa que partilha a nossa vida. essa partilha deve ser num todo, assim sendo, quando alguém se prejudica e sofre com um vício leva consigo o sofrimento de quem a ama e deixa de ser um problema só dela.
uma boa semana!
beijocas

fiel.jardineira disse...

Acho que devemos ajudar a outra pessoa, mas não deixar que isso nos destrua a nós proprias também...se entrar nesse caso devemos-nos afastar... bjs

Paula Baltazar Martins disse...

Para mim é impensável ver a pessoa que amo auto-destruir-se sem eu intervir. Não consigo imaginar perder a pessoa que amo, por isso jamais aceitaria vê-la numa situação deste tipo.

Anônimo disse...

Ora bem, como leio smp os comentarios feitos anteriormente devo dizer-te/vos que concordo com o que a orquidea escreveu.

E sim, tiraria a garrafa da mão.

Gayja disse...

Ora bem, eu é que não me soube exprimir "como deve de ser"! Utilizei um exemplo demasiado forte. O que eu pretendia era mais próximo do ponto que a Orquídea tocou.
A questão surgia em torno de uma situação que seja mais forte do que um hábito mas não tão grave quanto uma dependência/doença. Neste caso a escolha livre e consciente está excluída (julgo eu...não sou muito entendida nestas coisas...)

Mas e se fosse este caso:
verem a pessoa que amam com hábitos de vida incompatíveis com um estilo de vida saudável como por exemplo passar noite inteiras em branco por "mania" e depois prejudicar o trabalho correndo o risco de vir a ser despedida. E agora? ;)

Anônimo disse...

Como a orquídea sou eu e gosto do debate (acho um bom uso para as caixas de comentários)cá vai o meu ponto de vista para esta situação "hipotética":Passar as noites em branco, por exemplo a jogar online ou a ver sites pornográficos é tão aditivo e debilitante para a pessoa como qq outra dependência. Assim, e se amamos (amor romântico ou de amizade) a iniciativa será a de procurar junto da outra pessoa que ela se dê conta de como isto está a prejudicar a sua vida e dos riscos que corre. Isto leva tempo e não dá para ser à força. Se mesmo assim, ela continua na sua e a negar que tem ali um problema e que ainda por cima nos magoa, então minha cara, é ir à nossa vida, pois para este peditório não dou (mais vez nenhuma)
Beijos.

Áurea disse...

Esta hipótese que colocas, na minha opinião, tb requer intervenção junto da pessoa que amamos e com quem partilhamos a vida, alertando-a que está a cair numa situação prejudicial para a saúde e com repercussões na prestação profissional.

Passar noites em branco dá para aguentar até um certo ponto, passando o organismo a não aguentar ou a "pedir" um "ajudante" para se manter acordado. A falta de umas tantas horas de sono reflecte-se no nosso corpo, física e mentalmente, prejudicando o rendimento no emprego.

Definitivamente, tinha uma conversa séria com a pessoa que amo e dizia-lhe que não podia continuar a passar noites "em branco". E não considero violação da liberdade de ninguém.

Gayja disse...

Aha! Agora ficou mais interessante. :) Obrigada pelo contributo! ;)

Marta Rema disse...

totalmente de acordo com a namorada, até porque nesses casos normalmente não há outra alternativa. às vezes acaba por ser mais uma questão de respeito por nós próprios do que propriamente até uma questão de respeito do outro e da sua liberdade individual.

no caso em que seja apenas um persistente "mau hábito", podemos tentar falar com a pessoa, tentando chamá-la à razão. pessoalmente sou bastante teimosa e não desisto facilmente. mas acho se a pessoa resistir demasiado ao questionamento, é mau sinal. qualquer coisa na comunicação, na relação, não está a funcionar.

no caso em que se trate de um vício ou dependência, que esteja a afectar a dinâmica pessoal ou da relação (afecta sempre), não há muito a fazer. tenta-se tantas vezes quantas formos capazes, apoia-se o melhor possível, tenta-se compreender o melhor possível, mas é preciso estar atento aos nossos próprios limites.

no caso em que se trate de divergências de horários, que as obrigações de trabalho podem por vezes implicar, é uma questão de tempo: durante quanto tempo podemos suportar viver uma vida a duas em separado. há casais que já estão preparados para isso logo à partida (conheço dois estudantes por exemplo, um está na américa o outro em inglaterra, encontram-se algumas vezes por ano, mantém correspondência, etc.), outros que são surpreendidos por isso.