(Voltei só para dizer que)


O meu pai já foi o meu herói.

Aquele que me deitava à noite e, com infinita paciência, desejava boa noite a mim, a todos os brinquedos e ainda a todos os animais que estavam pintados num poster que tinha no meu quarto.
Lembro-me perfeitamente de acordar e percorrer a casa toda à procura do meu pai, não o encontrar e desatar a chorar. Lembro-me de quando ele voltava de uns dias fora e me perguntava "tiveste muitas saudades" e eu respondia que sim (mesmo sem saber o que eram saudades) só para receber o livro e a cassete da Disney.
Ainda tenho algures guardado o postal (com uma joaninha desenhada) que ele me enviou no meu aniversário (5 ou 6 anos) quando uma reunião em Lisboa o impediu de estar comigo nesse dia. E nem vos conto a paciência daquele homem para todos os anos fazer inúmeros barcos de casca de laranja para servirem de taças para gelatina na minha festa de aniversário (que até tinham velas feitas com palitos e papel!). Agora até me lembrei do arroz de leite que ele apresentava como sendo a sua grande especialidade e que eu adorava (mas que não passava de arroz do dia anterior aquecido numa frigideira com um pouco de leite, que almoçávamos quando a minha mãe não estava).
Tínhamos uma relação muito próxima e era ele que conversava comigo para me tentar fazer entender que eu não tinha razão e era parva naquela fase, no início da adolescência, em que estava sempre chateada com a minha mãe.
Ainda hoje me rio a lembrar do ar palerma (mas, estranhamente, também orgulhoso) com que ele disse "a minha filha já é uma mulher" e me deu um grande abraço quando lhe disse que tinha acabado de ter a menstruação pela primeira vez.
Às vezes consigo até ainda ouvi-lo dizer "porta-te bem" com a voz a fugir e o coração apertado quando me deixou pela primeira vez num Domingo à noite, véspera do meu primeiro dia de aulas, à porta da casa onde viria a passar os meus tempos de universitária.
E podia ficar aqui o resto do dia a relatar todas as boas recordações...
Infelizmente as relações estão também cheias de momentos maus. E eu tive alguns com o meu pai. Alguns mais recentes que criaram um muro entre nós.
Hoje o meu pai não faz parte da minha vida como já fez e como eu gostaria que fizesse.
Eu sei que ele tem orgulho em mim. Mas não o admite.
O medo e a "casmurrice" ainda nos mantêm afastados.

Mas hoje vou almoçar com ele.

8 sobreviveram ao "lápis azul":

Paula Baltazar Martins disse...

Pensa nessas boas recordações e tem um bom almoço :)

Um dia ele há-de dar o braço a torcer...

B' disse...

Espero que o almoço tenha corrido como esperavas :)

Anônimo disse...

vai passar, essa fase.

falo por experiência própria.

o seu pai ama-a, como o meu a mim, como todos aos seus filhos.

e passa, passam sempre, esss fases piores, por medo e casmurrice ou seja pelo que for, porque o amor é mais forte.

acredite em mim :-)

a disse...

E esse abraço ao papá foi bom?

Jotinha disse...

Não deixam de ser os nossos tesourinhos...chatos, exigentes, desligados, insensíveis, etc...Nunca te esqueças disso.No fundo tens de ir mais vezes almoçar com ele!!!

:)
Beijosssss (bom estares de volta)

nada desta vida disse...

ai gayja que me soltas a lagrimita. espero que tudo tenha corrido bem. beijocas e boa semana*

Cris disse...

Espero que esse almoço tenha sido um passo para se entenderem de novo.
Beijinhos

Susana Barros disse...

Veio-me a lagrimita ao olho!
Espero que tenha corrido tudo bem (sei que já estou um pouquinho atrasada...).
Beijinhos,
Susana